A escravidão na África era uma
pratica bastante antiga, jamais se pode dizer que os europeus, precisamente os
portugueses, holandeses ou franceses serem os culpados de “introduzir”, iniciar
a pratica do comercio de escravos na África, sendo essa datada praticada,
provavelmente, desde o Antigo Egito. No ano 1492 ou 1484, os portugueses, em
viagem, ao desembarcarem na África, encontraram a existência do comercio de
escravos. Em África-Bantu o próprio Rei (Soba), em algumas aldeias, tanto no
Reino do Kongo, no Reino do Ndongo, no Reino de Matamba, no Reino do Lunda, no
Reino Loango. No Reino Tio, no Reino Kakongo, no Reino Soyo, no Reino Kisama,
no Reino Gangela e outros, tinham vários escravos, capturados de guerras
travadas com reinos rivais.
Segundo Jan Vansina, o mais
antigo manuscrito existente sobre os povos do Reino do Kongo é datada de 1492, mas
com as escritas posteriores que tratam apenas do Reino do Kongo, que se
tornaram mais freqüentes no período do ano de 1500, freqüentes como as datas
1587, 1624 etc., podem dar informações sobre o período anterior a 1483, (UNESCO,
Historia Geral da África, 2010: 623). Mas Dennett (1906), relata em umas de
suas obras, que: “Diego Cão, por decreto real datado 14 abril de
1484, foi contratado para estender as explorações na costa da África, e ele
descobriu o Rio Kongo em 1484” .
Mesmo
que as datas tenham a diferença de 12 anos de diferença, a afirmação de Dennett
revela a existência de outro manuscrito, mais antigo que o revelado por
Vansina, retratando a chegada dos portugueses.
O
nome do Rio Kongo, por onde Diogo Cão passou, é o Rio Zaire, nome original, sem
influência portuguesa, sendo que ao chegarem ao Kongo, os congolenses já falava
Zairi ou Zaidi, designando o próprio nome do Rio.
Dennett
(1906) nos revela que o nome nativo para este rio Zairi ou Zaidi, foi chamado
como sendo o caminho do espírito, ou personalidade de amor e conhecimento. Não
se deve dizer que o rio era chamado por esse nome porque os missionários do
passado veio desse jeito e ensinar os nativos certos ofícios.
Dannett
(1906), a primeira expedição chegou a San Salvador (conhecido anterior a
chegado dos portugueses como Mbaza Kongo) em 1491.
Com a
chegada dos portugueses em
terras Kongo , o cotidiano dos congolenses, principalmente em
outras terras, como no Ndongo seria mudado, tanto na forma lingüística como em
uma grande porcentagem da cultura e modo de vida. Mas, o mais difícil para
estes povos foi a vida cruel que presenciaram com a chegada dos portugueses,
mesmo que tenha sido direcionado no principio aos grupos de escravos existentes
em cada reino.
Segundo Jan Vansina, “um escravo era um
servidor que produzia obedecendo as diretrizes de seu amo e aumentava em uma
unidade a força de trabalho agrícola, até então basicamente composta de
mulheres” (UNESCO, Historia Geral da África IV, África do século XII ao século
XVI, pg, 362).
Os
primeiros escravos foram certamente prisioneiros de guerra. Quando os
portugueses chegaram, inverteu todo o sentido do fluxo dos escravos,
desviando-os para as Américas, tendo esses escravos a pior forma de vida
escrava em terras totalmente desconhecidas. Comercio que chegou a ser
humilhante, anti-humano, a pior pratica de formas escrava existente.
No
século XV os portugueses desenvolveram a produção de açúcar de cana nos
territórios de Açores, Madeira, Cabo Verde, São Tomé, e, na ultima década nas
Canárias, onde as suas plantações, mesmo que todas essas ilhas passaram por um
período de decadência, serviram como modelo para o Brasil (Lépine, pg.13).
Segundo
Claude Lépine, os primeiros escravos teriam sido introduzidos na America em
1502 em virtude de um Edito Real. Mas, no Brasil os primeiros escravos
africanos a chegarem, para trabalharem nas plantações de cana de açúcar, na
Vila de São Vicente no ano de 1538, e, tendo mais tarde no ano de 1550, chegado
o primeiro desembarque de escravos na Bahia.
No período de 1530 o numero de escravos arrancados da África, da pior
forma humana, em transportes inadequados e sem um sustento alimentar, já
passava de 2000 por ano, chegando se intensificar com o passar dos anos.
No
século XV ao inicio do século XIX, chegaram escravos de diversas regiões da
África negra, chegaram principalmente príncipes, princesas, sacerdotes e sacerdotisas
de diversas etnias, onde aqui se uniram, em objetividade de uma única
realização, a liberdade.
Chegaram
povos do Kongo, de Angola, do Daomé, da Nigéria, de Moçambique, de Benguela e
etc.
Os
negros que chegaram ao Brasil, de uma forma ou outra conseguiram sobreviver,
por mais doloroso e desumano suas condições de vida escrava, sofrendo,
acorrentados em troncos de baixo de chibatas e diversos castigos, jamais
deixaram desaparecer a fé. A fé nos seus Minkisi, Mahamba, Orixás, Voduns e
principalmente na sua ancestralidade.
Os
traficantes de escravos e principalmente os donos de escravos no Brasil,
acreditaram que a ausência da terra ancestral de cada negro escravo em suas
senzalas, degradaria o ser ou causaria corrosão na energia ancestral de cada uma,
causando-se a morte, quebrando o elo divino com seus desuses na África, pois,
no novo mundo nada poderiam fazer de prece aos seus deuses, tendo somente o
serviço escravo que exerciam durante toda a parte do dia, sem descanso, e,
quando trancafiados nas senzalas eram periodicamente vigiados.
Nas
senzalas, o que restava para os negros era o silencio, se voltando aos seus
deuses, para manter o poder, a força
vital de cada um, pois a energia vital que habita em cada ser, vem de uma
Divindade. Assim, para resistirem mais tempo, sobreviver, os africanos deram
manutenção, mesmo distante e de mãos amarradas, com seus Deuses e ancestrais.
Podendo conseguir uma vida prolongada, mesmo que fossem intensos os serviços
escravos, sem alimentos e sem banhos, onde os índios que foram escravizados,
que aqui viviam, mesmo com fé em seus ancestrais e Tupã, não resistiram o
serviço escravo, pois o porte corporal dos índios era diferente aos dos
africanos.
Segundo
Claude Lépine,
“se a descoberta da America e do índio
havia suscitado a representação do bom selvagem, o mesmo não se deu com a
África cuja imagem sempre foi negativa, com a exceção dos relatos dos primeiros
capitães. O preconceito racial contra os negros já aparece nos escritos árabes
do século X; quanto aos cristãos, eles tinham os negros – os Camitas – por
descendentes de Cam, filho de Noé que havia visto a nudez do próprio pai e cuja
descendência fora amaldiçoada para sempre, ficando da cor do Demônio e
condenada a escravidão”.
Os
negros vieram sem nada, deixaram tudo que de material pra trás, pois não lhes
foram permitidos. Não lhes permitiram trazer nem mesmo uma pedra, uma conta de
miçanga (misanga), pois, os europeus desejavam fazer com que os negros
renascessem em uma nova terra, sendo batizados e catequizados nos ritos da
Igreja Colonial.
Os
escravos de origem bantu que chegaram ao Brasil e conseguiram fugir para dentro
das matas, distante dos serviços escravos e do campo de visão dos senhores de
escravos , presenciaram uma crença muito similar a de suas terras natais no
sistema religioso e político com os índios.
Cada
nação indígena possuía crenças e rituais religiosos diferenciados, porem, todas
as tribos acreditavam nas forças da natureza e nos espíritos dos antepassados.
Desta mesma maneira se comportava os povos bantu, a força emanada da natureza e
o espírito dos ancestrais, eram respeitados e reverenciados dando segurando no
continuo elo e fonte da prosperidade do individuo e de sua aldeia.
Os
índios acreditam que tudo tem vida, as árvores, as águas, as pedras, as
montanhas e etc., onde revela uma crença na vida após a morte, e na presença de
um Deus criador de tudo que existe na terra e no espaço, com o nome de Tupã,
assim como Nzambi Mpungu é para os povos Bantu.
Para
os índios a escravidão foi muito pesada, chegando muitos a morrer muito cedo,
e, aos que conseguiam fugir restava-lhes se embrenhar por floresta adentro, a
procura de sua liberdade e preservar a própria vida, isso se membros de suas
aldeias natais ainda existisse.
Os
índios, assim como os negros foram condenados como feiticeiros e primitivos.
Tendo os negros taxados como seres de pactos com demônios, pois os
colonizadores e missionários preconceituosos condenavam os negros por suas
cores opostas a deles, crendo serem servos demoníacos, principalmente por
praticarem uma crença religiosa desconhecida pelos brancos.
Mas
para os colonizadores concluírem suas missões, que, “Diego Cão, por decreto real datado 14
abril de 1484, foi contratado para estender as explorações na costa da África,
descobrindo o Kongo em 1484” ,
muitos padres passaram a batizar e catequizar negros na África antes de virem
pro Brasil, e, outra turma de missionários que se encontravam no Brasil,
catequizando diversas tribos indígenas.
No
Reino do Kongo, no Reino do Ndongo,assim como no Reino de Matamba e outros
reinos, existiram reis e rainhas que se deixaram ser batizados para assegurar
seus e reinados e seus povos, como foi o caso da histórica e nobríssima Rainha
Nzinga Mbadi, conhecida Ana de Souza após se deixar ser batizada, Kimpa Vita
(1684-1706) que foi batizada como Beatriz, líder de um movimento emblemático de
reivindicação da legitimidade das crenças tradicionais, nascida entre os nobres
do vale no Mbidzi na província de Soyo.
Segundo
Claude Lépine, relata que; devem ter vindo pro Brasil uns 3.600.000 negros da
África. “Mas Herbert Klein, em trabalhos mais recentes, calcula que uns 4.009.400” (Lépine, pg.
13).
Alternadamente,
chegaram ao Brasil negros sudaneses e negros bantu, em um processo de quatro
grandes ciclos, como: o século XVI, o século XVII, o século XVIII e o inicio do
século XIX.
Esses
quatros ciclos são editados por Claude Lépine da seguinte ordem:
- “O ciclo da
Guiné, na segunda metade do século XVI traz negros de pontos da África situados
ao norte do Equador. Uolofs, mandingas, songhais, mossis, haussas, peuls.
- sucede-lhe no
século XVII o ciclo Congo e de Angola. Com efeito, em 1637 os holandeses tomam
o forte de São Jorge da Mina e afastam os portugueses do Golfo do Benin; chegam
portanto ao Brasil naquela época sobretudo negros bantos. Mas os holandeses
concedem aos traficantes baianos o privilegio de comerciar em quatro portos da
região, mediante o pagamento de uma taxa de 10% sobre o valor das mercadorias.
Na segunda metade do século XVII, pois um grande numero de escravos aja e
daomeanos (os jeje) são enviados para o Brasil, as Antilhas e Sul dos Estados
Unidos.
-no século XVIII
o trafico se volta para o Golfo do Benin: é o ciclo da Mina. A partir de 1698 a descoberta do ouro em Minas Gerais , Goiás,
e Mato Grosso, intensifica o trafico na Costa da Mina pois os europeus
acreditam que os minas são melhores para a mineração. Por outro lado uma
epidemia de varíola em Angola em 1687 contribui para afastar os traficantes. O
ciclo da Mina traz numerosos escravos daomeanos presos pelos iorubás; entram
também muitos sudaneses, oyó, ewe, fon, etc.
-no século XIX,
temos novamente um ciclo do Congo e Angola. Pelo trato de Viena, em 1815, a Inglaterra com
efeito obteve a proibição do trafico ao norte do Equador e os traficantes
brasileiros e portugueses se voltam para as costas do sul e até da
contra-costa, em
Moçambique. Predominam novamente, pois, os negros bantos. Mas
os baianos, burlando a proibição, continuam a praticar um trafico clandestino
nas costas do reino do Benin. O ciclo portanto se desdobra e temos no período
de 1770 a
1850 um ciclo do Benin, paralelo ao ciclo do Congo e Angola. Chegam neste
período a Bahia, em, 1808 importantes levas de escravos hauçás e muçulmanos, em
1830 iorubas presos nas guerras dos Fulani contra o império de Oyó; egba,
egbado, ijesa, ketu, aparecem depois, em 1839” (pg. 14).
Um grande abraço aos amigos!
Tata Kitalehoxi!
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