Xafwanandenda era mwata de
uma grande aldeia. Tinha sob o seu domínio imensa gente, grandes mayanga (caçadores)
e os melhores twa (cães de caça) de toda a região. Os nganga a mukanda (homens
que fazer a circuncisão) da txihunda (aldeia) de Xafwanandenda eram muito
afamados. Toda a gente os mandava chamar mais os seus ilombota (ajudantes da
circuncisão ) para que interviessem nas suas festas de mukanda. A razão disso
era porque Xafwanandenda foi quem, entre os Lundas, começou pela primeira vez a
fazer a circuncisão.
Nesta época ainda não havia
mascarados. Porem, um dia, uma mulher da aldeia, de nome Natxifwa, para
amedrontar o filho que queria acompanhá-la ao rio onde ia buscar água numa
cabaça, desenhou uns olhos sobre ela e voltando-se para o filho disse: - tu não
podes ir comigo porque no lwiji (rio) há pessoas assim. – E mostrava a cabaça
onde estavam desenhados os olhos. O miúdo ao ser tal, amedrontou-se e foi
esconder-se no interior da nzuwo (casa). E a mulher foi descansada buscar água
ao rio onde contou o sucedido a outras suas amigas que passaram a adotar o
mesmo sistema.
Assim as mulheres passaram a
manter os seus filhos em respeito, acontecendo o mesmo com maior parte dos
homens, que passaram a temer as mulheres, alegando que tinham feitiço.
Xafwanandenda via o poder dos homens decrescer em beneficio do das mulheres. Um
dia foi ao yambu (mato) e encontrou uma
enorme cabaça redonda com grandes olhos em fenda, uma boca com dentes
salientes, toda coberta de rede e dos lados saiam-lhe grandes cornos.
Atemorizado, quis fugir, mas a cabaça falou-lhe:
- Não tenhas medo, não sou
txipupu (alma do outro mundo), eu sou teu mukulu (antepassado) e sei também que
andas muito preocupado com o que está acontecendo com as mulheres da tua
aldeia.
- O que hei-de fazer? –
inquiriu Xafwanandenda.
- Olha – e apontava para
outra cabaça -, pega nela, faz-lhe olhos, boca e nariz, cobre-a com rede e
coloca-a no rosto. Depois disto cobre-te de folhas e capim e aparece na ixata
(recinto só para homens) da tua aldeia.
Todos virão ver-te e então
dirás que representas os myata akulu (chefes antigos) e que de hoje para o
futuro toda a mulher que for apanhada com cabaças em forma de máscaras sofrerá
o castigo dos makulwana (grandes) já falecidos. Depois, reunirás todos os
homens, com excepção dos twanuke (rapazes não-circuncidados), e explicará que o
teu segredo não pode ser revelado as mulheres e crianças. Desta forma, estou
certo, acabarás com o poderio das mulheres.
- Mas porque hei-de pôr este
objeto no rosto? – perguntou Xafwanandenda.
- Se a puseres na tua face,
passarás a ser mukixi (espírito) e serás como os teus makulwana que vive no
mundo dos yizuli (das sombras). Não tem a face de homens, pois morreram e foram
ter com Kalunga nyi Nzambi (Deus Supremo).
Xafwanandenda assim fez, e,
na realidade, os homens passaram a reunir-se na floresta: mascaravam-se,
dançavam e imolavam animais em honra dos antepassados falecidos. Algumas vezes
dançavam a volta de uma grande cabaça coberta de rede, com olhos, nariz e boca
pintados, a qual representa os makulwana já falecidos. Se alguma mulher ou
criança se aproximava do local, corria esbaforida, indo esconder-se na sua
cubata ou nos sítios mais recônditos do mato.
Por aquela época,
realizava-se na sanzala de Xafwanandenda uma grande mukanda, mas os homens
encarregados dos tundandji (iniciados), os yiembwoka ou yilombola, tinham muita
difiuldade em obter comida quando a pediam nas sanzalas. Reunindo-se, os homens
resolveram que os yilombola deviam aparecer nas aldeias mascarados. Assim se
fez e, quando as mulheres e crianças viam os mascarados, fugiam a sete pés.
Então, os yilombola roubavam comida que levavam para o acampamento da circuncisão.
Fonte: Akixi / Mascarados do Nordeste de Angola
Um grande abraço aos amigos!
Tata Kitalehoxi!
Nenhum comentário:
Postar um comentário