A origem dos Candomblés de Caboclos está no ritual de
antigos negros de origem banto, que na África distante cultuavam os Nkisi - e
que no Brasil viram-se forçados a encontrar um outro antepassado para
substituir o Nkisi que não os acompanhou à nova terra. Neste novo e distante
país, que antepassado cultuar senão o índio, o caboclo, como dizia os antigos
nordestinos? Os antigos habitantes quem senão o verdadeiro e original
"dono da terra"? (Santos, 1995).
O Candomblé de Caboclo se deu inicio entre os negros Bantu, sendo os espíritos indígenas paralelamente cultuados as divindades africanas (Nkisi e Hamba), sem misturar os Caboclos com Nkisi ou Hamba. Os negros tiveram a preocupação de cultuar os ancestrais desta terra, passando a cultuar paralelo ao culto que prestavam aos seus Minkisi e Mahamba.
Os caboclos, espíritos dos antigos índios que povoaram o território brasileiro, os antigos caboclos, eleitos pelos povos Bantu que aqui viveram anteriormente a chegada dos negros nagôs, como os verdadeiros ancestrais em terras nativas. São espíritos, não Deuses.
Ao Caboclo Índio são designados com “Caboclo de pena", por causa da referência aos penachos e cocares que usam quando em transe para marcar sua origem indígena, e também existem os Caboclos de outras procedências, que são os Caboclos de couro (Boiadeiros), que teriam um dia vivido no sertão na lida do gado e que usam o chapéu característico de sua antiga ocupação.
O Candomblé Ketu não cultuava Caboclo, o que existe hoje é nessas casas de Ketu é modernidade, pois Caboclo sempre foi cultuados pelos angoleiros, por serem cultuados pelos povos Bantu ao chegarem nestas terras.
No livro Negros Bantos, Edison Carneiro relatou muitas
cantigas e cerimônias assistidas no Terreiro da Goméia de João da Pedra Preta a
quem, menciona em primeiro lugar nas listas do Pais de Santo consultados
(Carneiro, 1937, p. 10). Outro escritor também menciona em Negroes in Brazil,
os mais conhecidos Terreiros de nação Congo-Angola de Salvador, menciona o
Terreiro da Goméia ao lado de terreiros prestigiados como o Bate-Folha, ate
mesmo o Terreiro de Jubiabá (Pierson, 1967, p. 278)...(Vagner Gonçalves da
Silva, p.156).
Tenho noticias de um mais velho descendente e pesquisador da
Ndanji Goméia que a origem da Goméia é Candomblé Angola Caboclo por parte do
Tatetu Severino Manoel de Abreu – Jubiabá, Pai de Santo de Joãozinho da Goméia.
Com a origem do Candomblé de Caboclo que se originou pelos povos Bantu, faz
desta Ndanji um importante Candomblé Angola, por conta dos princípios bantu, na
precisão da elaboração de cultuar os ancestrais indígenas destas terras.
Joãozinho da Goméia foi um dos principais colaboradores de
Edison Carneiro, que, em
Negros Bantos , realizou uma etnografia sobre os Candomblés de
ritos Angola e de Caboclos. Uma carta enviada Artur Ramos, o editor de Negros
Bantos, Edison Carneiro se revelou bastante entusiasmado com o Candomblé da
Goméia, ele diz:
Não se espante, por isso mesmo, com outros artigos sobre
negros que vou cometer daqui por diante. Por exemplo, nos Negros Bantos
pretendo dedicar capítulos aos candomblés de caboclo e as sessões de caboclo.
Arranjei um ótimo campo de observação – o candomblé da Goméia (Angola). Já
tenho observações notáveis que vão espantar o povo (Oliveira e Lima, 1987,
p.109)...(Vagner Gonçalves da Silva, p. 156).
Sobre as polemicas contra Joãozinho da Goméia de cultuar
caboclo no seu candomblé, observamos que Edison Carneiro sabia o que estava
falando na carta enviada a Artur Ramos, por conta das criticas que as
Sacerdotisas direcionavam ao Joãozinho da Goméia cultuar caboclo em seu
candomblé, pois dentro das casas tradicionais da Bahia de nação ketu não
cultuavam caboclos, não preocuparam em cultuar os ancestrais destas terras,
preocupando somente com os Orixás deles no Candomblé.
Na esfera das religiões afro-brasileiras, a participação dos
bantos foi fundamental, pois é da religiosidade desses povos ou sob sua
influência decisiva que se formou no Brasil o Candomblé de Caboclo baiano e
outras variantes regionais de culto ao antepassado indígena.
Da necessidade de cultuar o ancestral e do sentimento de que
havia uma ancestralidade territorial própria do novo solo que habitavam, os
bantos e seus descendentes criaram o candomblé de caboclo, que celebrava
espíritos dos índios ancestrais (Santos, 1995; Prandi, Vallado e Souza, 2001).
Os Bantu estiveram no Brasil a muito mais tempo, mas existe
indícios históricos que levam a crer que somente com a formação do Candomblé Angola
e Congo de culto as divindades africanas (Nkisi e Hamba) teria surgido quando
os Candomblés Ketu e Candomblé Djedje já estavam se organizando ou organizados.
Embora todos os negros e mestiços fossem considerados como
iguais, na medida em que ocupavam na sociedade branca posição oficialmente
subalterna e marginalizada, as identidades étnicas estavam preservadas nas
irmandades religiosas católicas, que reuniam em igrejas e associações
específicas os diferentes grupos africanos étnico-linguístico.
Pois quando nagôs e jejes reunidos nas irmandades católicas
(Silveira, 2000) refizeram no Brasil suas religiões africanas de origem, os Bantu
os acompanharam.
No campo religioso foi, portanto, dupla a contribuição banta
originada na Bahia: o Candomblé de Caboclo e o Candomblé de Angola e Kongo,
duas modalidades que se casariam num único complexo afro-índio-brasileiro,
povoando, a partir da década de 1960, praticamente o Brasil todo de terreiros
angola-congo-caboclo.
Na
Salvador das décadas de 1920-30, o candomblé de caboclo, mais próximo de
influências indígenas, contava com sacerdotes de grande prestígio: entre muitos
outros, Pai Otávio Odé Taiocê, Sabina, Constância e sua irmã Silvana, que teria
sido a primeira sacerdotisa do rito queto a incorporar o culto dos caboclos,
uma proto-mãe da umbanda (Landes, 1967, cap. 17).
O
Candomblé Ketu sempre disputava em popularidade com os Candomblés Bantu, conhecidos
pelos nomes de Candomblé Angola ou Congo, os quais se espalham por todo o
Brasil. Alguns destes Candomblés de raiz Bantu são: o candomblé do Bate-Folha,
dos finados Pai Bernardino da Paixão e Mãe Samba Diamongo, o candomblé de Maria
Neném, o candomblé de Ciriaco Tumba Junçara, o candomblé de Pai Manoel Natividade,
do Caboclo Neive Branca e o candomblé da Goméia de Joãozinho da Goméia, importantíssimo
divulgador da popularização do Candomblé no Rio de Janeiro, para onde se
transferiu no ano 36, e que tem lugar significativo na memória dos candomblés
paulistas.
Ruth
Landes, antropóloga americana que, entre 1938 e 1939, guiada por Edison
Carneiro, percorreu muitos Candomblés baianos, transcreve a seguinte explicação
que lhe dera Sabina, mãe iniciada nos cultos caboclos por Silvana, com quem já
estava rompida:
“Este
templo é protegido por Jesus e Oxalá e pertence ao Bom Jesus da Lapa. É uma das
casas dos espíritos caboclos, os antigos índios brasileiros, e não vem dos
africanos iorubás ou do Congo. Os antigos índios da mata mandam os espíritos
deles nos guiar, e alguns deles são espíritos de índios mortos há centenas de
anos. Salvamos primeiro os deuses iorubás nas nossas festas porque não podemos deixá-los
de lado; mas depois salvamos os caboclos porque foram os primeiros donos da
terra em que vivemos. Foram os donos e portanto são agora os nossos guias.
[...] Talvez eu deva ir ao Rio e instalar um candomblé?” (ibid.: 193).
Mãe
Sabina jogava búzios, recebia às quartas-feiras o seu caboclo para dar
consultas, fazia os despachos e ebós. As cantigas e preces em sua casa eram em
português misturado com palavras que hoje ouvimos nos candomblés angola.
Os
sacerdotes desses terreiros de nações diferentes viviam em constante troca de
visitas e favores, apesar das disputas entre eles. A então jovem Menininha do
Gantois, que era admiradora e amiga de Constância, mãe de candomblé de caboclo,
comenta com Ruth Landes sobre Mãe Sabina: “A senhora a chama de mãe? Ela quer é
ganhar a vida, e não ajudar os outros, e nunca foi treinada em candomblé algum.
[...] E vive combatendo Constância, que é uma grande mãe, porque Constância a batizou
na lei de caboclo. Constância e Silvana, essas sim, são grandes sacerdotisas”
(ibid.: 213).
Preconceituosamente,
o candomblé angola tem sido considerado um rito menor, e dele pouco se estudou
(Trindade-Serra, 1978; Carneiro, 1937; Cossard-Binon, s.d.,).
O
Candomblé Angola legitimou desde cedo o culto dos caboclos brasileiros, que
além de se constituir como rito independente, foi também incorporado lá pelos
anos 30 e 40 do século XX por casas nagôs que não as da tríade fundante, a Casa
Branca, o Gantois, o Opô Afonjá (Landes, 1967).
Não
se pode confundir Candomblé de Caboclo com a Umbanda, pois o Candomblé de
Caboclo na época de sua formação cultuava as suas próprias Divindades - Nkisi e
Mukixi, e os ancestrais desta terra. A Umbanda foi formada em 1908 onde adotou
os Orixás, Caboclos, Pretos Velhos, Marujos, Baianos e Menino de Angola, todos
estes espíritos.
Um grande abraço aos amigos!
Tata Kitalehoxi!
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